Para iniciar esta discussão quero convidar o leitor a retornar a cena exposta no Evangelho de João nos capítulos 13 a 16. É importante analisar o contexto de onde se desenvolve toda a discussão, e para isto faremos um resumo dos fatos narrados no Evangelho Joanino.
Jesus estava reunido com seus discípulos para celebrar a Páscoa judaica em uma sala ampla chamada cenáculo. Ali o Mestre estava dando as instruções finais antes que Ele fosse entregue para iniciar o seu martírio e Sua Paixão. Naquela noite fria, todos juntos celebravam a Pascoa Judaica, onde era costume comer pães asmos e beber uma mistura de ervas amargas com o propósito de lembrar a libertação que o Senhor havia dado ao seu povo da escravidão do Egito (Ex. 12).
Naquela sala Jesus nos deixa algumas importantes lições, tais como: o exemplo de humildade através da cerimônia do “Lava-pés” (Jo 13.3-5), mostrando que aquele que deseja ser o maior deve estar pronto para ser o menor.
Após esta cerimônia Jesus começa a descortinar o futuro dos discípulos e os prepara para tudo que viria nos dias que seguiram a sua partida. Primeiramente Jesus dá uma notícia assustadora: um dos seus discípulos iria O trair (Jo 13.21). Todos atônitos se perguntam quem seria, e Jesus enigmaticamente apenas responde que “E aquele a quem eu der o bocado molhado (João 13.26a). Judas seria o algoz, e agora possuído pelo diabo (Jo 13.27), sai apressadamente para consumar a sua odisseia de traição, por consequência ele não participa do restante das instruções que os outros onze discípulos ouviriam.
A partir do capítulo 14 Jesus começa a falar sobre a sua partida e informa aos discípulos como deveriam estar prontos para a nova situação que viria após a sua retirada. Eu imagino que neste instante o desespero deve ter inundado os corações de todos. Devem ter se indagado: como Ele irá nos deixar? O que iremos fazer? Será que vamos conseguir cumprir a missão sem a doce presença do mestre? Estas questões são suposições, porém as faço com base na mensagem de conforto que Jesus inicia seu discurso ao dizer: “Não se turbe o vosso coração […]” (Jo 14.1 a). Eles deveriam ter calma, deveriam crer em Jesus e em Deus Pai. O Senhor não os deixaria órfãos! E neste contexto que vem a promessa de que Jesus enviaria “outro consolador” (Jo 14.16) a fim de permitir que Sua obra prosseguisse. Jesus deixa claro: “E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (Jo 14.16-18)
O Espírito Santo viria, Ele estaria consolando os apóstolos. Eles não ficariam órfãos e, portanto, estariam sendo amparados para realizar a missão que Jesus estava os preparando! No capítulo 15 Jesus continua com suas instruções e revela que os discípulos deveriam estar enxertados na videira Verdadeira que era Ele, “[…]porque sem mim [Jesus] nada podeis fazer” (Jo 15.5 b), mostrando que sem a presença de Jesus ou alguém de igual envergadura (no caso o Espírito Santo) era impossível realizar a ontológica missão que estava posta sobre os ombros da Igreja. Ainda no mesmo capítulo, é destacado o papel que o Espírito Santo, juntamente com os discípulos, desenvolveria ao testemunhar de Jesus a todos quantos fosse possível (Jo 15.26).
No capítulo 16, o evangelista João destaca as Palavras de Jesus a respeito de como o Espírito Santo agiria diretamente no processo de propagação do Evangelho e como os discípulos suportariam as adversidades futuras com ajuda do Santo Espírito. Poderíamos dizer que este capítulo é o que envolve uma forte gama de emoções, especialmente diante da grande perspectiva de angústia em virtude da partida de Jesus (Jo 16.21-33). Contudo, mais uma vez o conforto só viria com a ajuda do Consolador! Após esta síntese do que Jesus falou, e foi compilado por João em seu Evangelho (Jo 13-16), fica claro que a Igreja embrionária não poderia subsistir sem ajuda do Parakletos. E por essa razão que Jesus afirma: “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei” (João 16.8). Era necessário que esta promessa fosse cumprida, era necessário que Ele estivesse conosco e, portanto, é fundamental a presença do Espírito Santo para a vida da Igreja!
Esta promessa foi cumprida pouco tempo depois, no Dia de Pentecostes (Atos 2). Lucas nos apresenta em um relato histórico e pedagógico que aqueles irmãos esperavam o cumprimento da promessa de Cristo (Jo 14.16; At 1.8), e indubitavelmente ela foi cumprida. Para que não restassem dúvidas quanto à ação Divina no Dia de Pentecostes, ali houve inúmeras manifestações que certificavam que o Espírito agora estava no meio da Igreja. Este evento é descrito de forma majestosa por Lucas que nos informa: “E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos 2.2-4). Eram as primícias da Igreja! Era o cumprimento da promessa de Jesus! O Espírito Santo agora habitava no meio da Igreja. A partir deste ponto torna-se imprescindível esclarecer como o Santo Espírito iria agir no meio da Igreja e na vida do cristão. Assim, buscaremos apresentar estes pontos a seguir.
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Fonte: livro – Escudo Pentecostal, uma visão panorâmica das principais doutrinas pentecostais, Jefferson Rodrigues