As Bíblias tanto católicas como protestantes possuíam um mesmo conteúdo até que no concilio de Trento, em 1546, após o início da reforma protestante em 1517 a Igreja católica decidiu considerar alguns livros além dos 66 que já eram aceitos como canônicos (inspirados) para a base de sustentação de algumas doutrinas católicas que eram refutadas por Lutero e seus companheiros com base nas Escrituras. A Igreja Católica diante da dificuldade de responder as acusações levantadas pelos protestantes decidiu adotar um conjunto de livros escritos no período intertestamentário (entre Malaquias e Mateus), sete ao todo (Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria e I, II Macabeus) mais algumas partes inseridas nos livros de Daniel e Ester. As principais doutrinas “favorecidas” foram:
- Justificação pelas obras (Tobias 4.7-11);
- Mediação dos Santos (Tobias 12.12);
- Ódio aos Samaritanos (Eclesiásticos 50.27-28);
- Oração pelos mortos (2 Macabeus 12. 44-45);
- Magia como meio de exorcismo (Tobias 6.8).
Portanto, os livros que foram inseridos na Bíblia católica possuem doutrinas que não se harmonizam com o restante das Escrituras Sagradas e nunca foram aceitos pelos judeus como inspirados por Deus (na lista de livros considerados inspirados, escrita pelo historiador judaico Flávio Josefo, ele omite os apócrifos, mesmo os conhecendo em seus dias), admitindo-os apenas como “históricos” e de conteúdo inferior e secundário às demais Escrituras. Até o famoso tradutor da Bíblia latina, Jerônimo, recusou-se a traduzir os “apócrifos” em sua versão das Escrituras, só o fazendo parcialmente depois.
O fato de a tradução do AT em grego (LXX — Septuaginta) trazer os “apócrifos” em seu texto não é prova suficiente de que os mesmos eram aceitos como escritura inspirada como são considerados os demais textos, pois a versão mais antiga que possuímos desta tradução grega é datada do IV século d.C. Além disso, nem Jesus, nem qualquer um dos outros escritores bíblicos do NT os citou em alguma de suas várias (cerca de 350) referências aos textos do AT.
A questão não é de omissão da “Bíblia evangélica”, e sim de acréscimo à “Bíblia católica”, pois estes livros (chamados apócrifos) só vieram a fazer parte integrante das Escrituras Sagradas cristãs em 1546 (ou seja, 1500 anos após o término do último livro da Bíblia) no concilio de Trento, onde foram inseridos na Bíblia para combater os ensinos ortodoxos defendidos pela reforma protestante, iniciada no século XVI. Antes estes textos eram conhecidos pelos judeus, mas nunca o seu conteúdo foi por eles considerado de inspiração divina, e sim de conteúdo histórico e inferior aos demais textos bíblicos.
Fonte: Livro – Manual de Respostas Bíblicas, Paulo Sérgio Batista, 2006.