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A era dos semideuses

Por   /  2 de fevereiro de 2016  /  Comentários desativados em A era dos semideuses

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Neste final de século XX, alguns cristãos estão se portando como se fossem semideuses. Entre eles há uma mistura enorme de crentes arrogantes, cristãos fanáticos, falsos profetas, exploradores da credibilidade popular e doentes mentais. Esperemos que haja também algum cristão apenas equivocado.

Enquanto o apóstolo Paulo esperou catorze anos para contar o seu arrebatamento ao terceiro céu e o fez com a maior discrição possível (2Coríntios 12.1-10), os casos de arrebatamento hoje em dia são estranhamente comuns, acentuadamente numerosos e escandalosamente imodestos. Parece haver até uma espécie de competição entre os arrebatados.

Enquanto os profetas mencionados na Bíblia sentiam-se esmagados pelo peso da santidade e da glória de Deus em suas visões do Senhor, os visionários de hoje não sofrem impacto nenhum. Alan B. Pieratt faz uma análise muito séria das visões da Bíblia e das visões de Kenneth Hagin, no livro “O Evangelho da Prosperidade”, páginas 99 a 109.

Ao invés de descrever a glória do Senhor, menciona aspectos frívolos: “Jesus tinha um manto branco e calçava sandálias romanas. Tinha um metro e oitenta centímetros de altura e pesava 75 quilos. Passou pela porta e quase que a fechou. Andou ao redor de minha cama, pegou uma cadeira, empurrou-a na minha direção, sentou-se, cruzou as mãos, e começou sua conversa”. Essa visão de Hagin aparece em seu livro “How You Can Be Led By The Spirit of God” (1978)e é citado no livro “O Evangelho da Nova Era” e Allan Pieratt na obra citada acima.

Enquanto os apóstolos reagiam enérgica e vigorosamente contra qualquer homenagem devida unicamente a Deus, e se declaravam humanos e não divinos, os profetas da Teologia da Prosperidade ensinam o contrário aos seus discípulos: “Você não tem Deus morando dentro de você? Você é Deus!”. Alguns deles exigem que o público repita em uníssono com eles: “Eu sou uma exata réplica de Deus”.

Isto contrasta chocantemente com a atitude de Pedro, quando o centurião Cornélio se ajoelhou diante dele em Cesareia. A Bíblia diz que o apóstolo mesmo o levantou e lhe ordenou: “Ergue-te, que eu também sou homem” (At 10.26). Contrasta também com a atitude de Paulo e Barnabé, quando as multidões de Listra, entusiasmadas com a cura do coxo, começaram a tratar os missionários como deuses em forma humana. Apavorados com tamanha distorsão, os apóstolos investiram contra o povaréu e clamaram: “Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus Vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles” (Atos 14.15). Enquanto as Escrituras Sagradas nos ensinam e nos encorajam a pedir as preciosas bênçãos de Deus (1Reis 3.5, Jeremias 33.3, Mateus 7.7-11, 18.19, 21.22; João 14.14), os pregadores da prosperidade nos ordenam a exigir de Deus os nossos direitos, em nome de Jesus. Segundo eles, não é necessário considerar a vontade de Deus na oração, nem orar mais de uma vez por alguma coisa, pois isto é falta de fé. O que o crente precisa fazer é chamar à existência as coisas que não são, pois é assim que Deus age. Ele “vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem” (Romanos 4.17). Por esta razão, devo dar glória a Deus antes mesmo de se tomar visível aquilo pelo qual eu orei, e devo agir como se tivesse já recebido a bênção exigida. Alan B. Pieraatt explica esta questão de exigir nossos direitos no capítulo que fala sobra A Confissão Positiva (obra citada, páginas 64 a 86).

Enquanto a Bíblia manda tomar cuidado com os falsos profetas (Mateus 7.15), com os pregadores de “outro Jesus” (2Coríntios 11.4) e “outro evangelho” (Gálatas 1.6-9), com os enganadores que também viajam pelo mundo fora (2João 7-8) e com os espíritos que não procedem de Deus (1João 4.1) – um dos mais importantes profetas da Teologia da Prosperidade (Kenneth Hagin), não tolera qualquer questionamento de seus ensinos e ameaça aos que a eles se opõem: “Se um pastor não aceitar essa mensagem, então lhe sobrevirá julgamento. Esse julgamento pode ser a morte física. Haverá ministros que não a aceitarão e cairão mortos no púlpito”. As muitas visões de Hagin deram-lhe a convicção de que ele é um porta-voz escolhido de Deus, conforme se vê no capítulo Autoridade Espiritual (Alan Pieratt, obra citada, páginas 38-50). É bom lembrar que Paulo repreendeu a Pedro “na presença de todos” quando este deixou de proceder corretamente no que diz respeito aos judaizantes (Gálatas 2.14) e que Lucas elogiou os bereanos por examinarem as Escrituras, para ver se o que Paulo pregava estava de acordo com a Palavra de Deus (Atos 17.11).

Todavia não são apenas as pessoas envolvidas com a Teologia da Prosperidade que alimentam a era dos semideuses. A questão da guerra espiritual, quando levada ao extremo, também gera um tipo de crente que abusa demais de certos verbos na primeira pessoa do singular: “eu ordeno”, eu amarro”, “eu mando embora”, “eu repreendo”, “eu comando” e assim por diante. Uma psicóloga residente em São Paulo elaborou um trabalho sobre demonismo, no qual usa uma dezena de vezes o verbo comandar, referindo-se aos demônios: “Eu te comando para me responder algumas perguntas”. “Eu comando que você se manifeste e comando todos os demônios presentes para saírem dessa mulher (possessa)”. Graças à insistência da psicóloga exorcista, os demônios revelaram seu nomes e contaram certos segredos de sua estratégia, como, por exemplo, os espíritos de mais alta hierarquia podem viajar por todo o mundo, mas os de hierarquia mais baixa governam áreas geográficas específicas. A psicóloga conclui que um dos demônios (Asmodeus), “não desejava falar, mas obviamente o meu comando para falar a verdade estava tendo efeito nele e ele estava sendo forçado a falar” (Rita Cabezas de Krumm, em Áreas de Influência Satânica, trabalho não publicado).

Para finalizar, é pertinente citar o trágico acontecimento que vitimou mais de oitenta pessoas na pequena cidade de Waco, no estado norte-americano do Texas, envolvendo um rapaz de 33 anos chamado David Koresh, que se dizia o Cristo. Veja os detalhes no site Museu de Imagens, http://www.museudeimagens.com.br/david-koresh-assedio-de-waco/.

E os outros casos?

A era dos semideuses precisa acabar logo!

Nota: Este texto foi escrito em 1992 e seu autor é desconhecido.

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