Poderá um casal cristão beneficiar da ciência, recorrendo à fertilização “in vitro” e inseminação artificial para obtenção de um filho?
Como sabemos, a Ciência conseguiu resolver o problema da infertilidade ou infecundidade. Agora, a questão que eu coloco é a seguinte: Poderá um casal cristão beneficiar da Ciência, recorrendo a fertilização “in vitro” e inseminação artificial para a obtenção de um filho?
Naturalmente que todos nós, sejamos cristãos ou não, podemos e devemos beneficiar do avanço cientifico e progresso tecnológico. Excetua-se alguma situação cujos processos ou consequências colidam com os nossos princípios éticos, morais ou espirituais.
Se analisarmos os textos bíblicos, verificamos que o mesmo Deus que disse “Frutificai e multiplicai-vos” (Gn 1 28) também advertiu: Não adulterarás” (Ex 20:14; Dt 5 18). Por aqui se vê que nem todos os processos de multiplicação e procriação serão lícitos diante do Criador.
A esterilidade é um problema antigo. A Bíblia, como é o Livro da Verdade, refere que perante tais situações as pessoas decidiram de modos distintos. Porém, aqueles que recorreram ao Criador para resolver a situação, como Ana (1 Sm 1:11) e Manoá (Jz 13 3) tiveram êxito (e filhos). Em contrapartida, os que utilizaram outros métodos como Sara (Gn 16:2) arranjaram uma enorme quantidade de complicações e dificuldades (Gn 16:15).
Biologicamente, todos os seres humanos têm um pai e uma mãe que são, respectivamente, os fornecedores do espermatozoide e do óvulo para a formação do ovo ou embrião do futuro bebê. Se um dos cônjuges não conseguir produzir a respectiva semente é lógico e intuitivo que não será o progenitor de nenhum bebé. Poderá, isso sim, fazer a adoção de uma criança, às vezes a médio prazo, caso ela ainda não haja nascido, o que poderá arrastar enormes complicações futuras.
Foi Deus que instituiu o casamento entre um homem e uma mulher (Gn 1:27; 2:24) é exatamente nessa união que reside a base fundamental para o desenvolvimento familiar. Todavia, nem sempre o casal, consegue transmitir vida a novos seres devido a certas incapacidades físicas, tanto da parte masculina como feminina
Ora, a Engenharia Genética veio em socorro da Humanidade, desenvolvendo-se de modo a produzir os tais chamados “milagres” científicos. Assim, a fertilização “in vitro” consiste na extração de um óvulo feminino que depois é fecundado, laboratorialmente, com sêmen (masculino) dentro de um tubo de ensaio ou proveta. Da união, fecundação ou fertilização do óvulo com o espermatozoide resulta o ovo ou embrião que será depois injetado ou inseminado no útero da mulher que pode até não ser a verdadeira mãe (dadora do óvulo).
Este processo clínico tem a vantagem, relativamente aos métodos clássicos ou tradicionais, de ajudar alguma esposa que possua alguma obstrução genital. Porém, a fertilização e inseminação foram mais longe ao misturarem sementes de pessoas que não estavam ligadas matrimonialmente. Começou assim, o designado “adultério clínico”, o qual tem proliferado exageradamente.
‘Em consequência de todas estas facilidades laboratoriais, surgiram então os bancos de sêmen congelado, mães alugadas por dez mil dólares, pais emprestados, etc., que têm produzido bastantes dores de cabeça aos juízes americanos. Por exemplo, uma viúva lembrou-se de ter um filho do marido que falecera dez anos atrás. Pediu autorização aos tribunais para ser encimada com a semente que o marido havia fornecido ao banco de sêmen, enquanto vivia. E assim nasceu o primeiro bebé cujo pai morrera quase onze anos antes! Certamente que este assunto terá sido registado no “Guiness Book”!
A minha opinião pessoal é que o casal poderá fazer tudo ao seu alcance para a obtenção de um filho, incluindo tratamento clínico, repouso absoluto durante a gravidez, etc. Refiro-me à obtenção de um filho legítimo, filho dos dois cônjuges. Recorrer a uma terceira pessoa, conhecida ou desconhecida, não faz sentido e não passa de uma adoção. pelo menos para um dos elementos do casal. E por falar em adoção, por que não adotar uma criança, já nascida, cujos pais tenham morrido ou abandonado a mesma? Tantas crianças a espera de uma família e de um lar, enquanto vários casais entretêm-se com complicadas operações genéticas!
Recorrer a bancos de sêmen para a obtenção de um filho de qualquer maneira e a qualquer preço, não é a melhor solução. Há quem o faça com a promessa de sigilo, mas depois o escândalo rebenta como aconteceu em 1992, quando se soube que o diretor clinico de um banco de sêmen era o pai de 120 filhos “As mães adulteras” ficaram escandalizadas por se tornar conhecido o escândalo que elas haviam praticado! Processaram então o pai dos 120 filhos. O qual poderá ser condenado em 120 anos de prisão ou até ser considerado inocente! Tudo pode acontecer neste pobre mundo pervertido.
Não adianta esconder o pecado porque o Diabo tapa com uma mão e destapa com a outra”, como diz um provérbio popular. A Bíblia assegura: “Não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz” (Lc 8:17). Deus sabe todas as coisas Toda a nossa vida está nua e patente diante do Senhor Como a Bíblia refere: Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? Aquele que argui as gentes não castigara? E o que dá ao homem o conhecimento, não saberá?” (SI 94:9,10)
Mais tarde ou mais cedo o escândalo rebenta, seja ele de que gênero for. Estamos no tempo dos escândalos políticos, financeiros, genéticos, religiosos, etc. Diz a Bíblia: “Ai do mundo, por causa aos escândalos; porque é mister que venham os escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18:7).
A semente humana deverá ser respeitada. Não é algo que se compre e venda para a realização de experiências genéticas. Não deverá ser usada de qualquer modo. Vejamos o caso de Onan em que Deus lhe tirou a vida (Gn 38:8-10).
Evidentemente que poderá fazer-se fertilização “in vitro” e inseminação artificial sem haver adultério clinico, se as sementes utilizadas pertencerem ao marido e à esposa. Todavia, a minha opinião pessoal é a de que um casal cristão não deverá ser um vanguardista. nem cobaia, em questão de modas e sistemas que fracassam. E depois… é sempre muito mais fácil trocar um tubo de ensaio no laboratório do que trocar uma criança na Maternidade! E esta última situação já ocorreu algumas vezes!
“Aquele que profere o Nome de Cristo, aparte-se da Iniquidade”, diz a Bíblia. E não é suficiente ser crente, honesto e temente a Deus: é preciso também parecer que o é, para que os outros não blasfemem o Nome do Senhor por nossa causa Se não queremos obter saúde de qualquer modo, por princípios contrários à nossa fé, também não devemos obter um “filho” por processos dúbios que ponham em causa a nossa reputação como serros de Deus.
Se não temos possibilidade de transmitir vida a um novo ser, por que não recorremos ao Senhor da Vida? Ele tem resolvido tantos casos deste que bem poderá resolver mais um”
AGOSTINHO SOARES
REVISTA: NOVAS DE ALEGRIAS – ABRIL 1994