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As Maiores Falhas Lógicas do Calvinismo

Por   /  1 de outubro de 2024  /  Sem comentários

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O Calvinismo, uma corrente teológica amplamente associada ao reformador João Calvino, tem gerado debates intensos ao longo dos séculos. Embora tenha moldado grande parte da teologia protestante, muitos teólogos, filósofos e críticos apontam para falhas lógicas e inconsistências teológicas dentro dessa estrutura. Abaixo, abordaremos alguns dos principais problemas lógicos do Calvinismo, respaldados por comentários de críticos e estudiosos.

1. O Problema de Construir uma Teologia em Torno de Versos Obscuros

Uma das críticas mais contundentes ao Calvinismo é a acusação de que ele constrói sua teologia em torno de versos bíblicos obscuros, em vez de interpretar esses versos à luz dos mais claros. Segundo *Adrian Rogers, teólogo e pastor batista, “qualquer teologia sadia deve interpretar os textos difíceis à luz dos claros, e o Calvinismo faz o oposto, obscurecendo o entendimento da Bíblia como um todo” (Rogers, *What Every Christian Ought to Know). Ao basear suas doutrinas principais em passagens complexas, como Romanos 9, o Calvinismo compromete uma interpretação mais equilibrada e coerente das Escrituras.

2. A Regeneração Precede a Fé

Uma das doutrinas centrais do Calvinismo é a ideia de que a regeneração precede a fé, ou seja, a pessoa deve primeiro ser regenerada por Deus antes de poder exercer a fé em Cristo. Isso, no entanto, cria um dilema teológico. Norman Geisler, um crítico severo do Calvinismo, argumenta que essa ideia coloca “a carruagem à frente dos bois” (Chosen but Free), sugerindo que as Escrituras frequentemente retratam a fé como o passo anterior à regeneração. Versos como João 1:12-13 enfatizam que os que receberam Cristo o fizeram por fé, tornando-se filhos de Deus.

3. O Determinismo de Todas as Coisas e a Sinceridade de Deus

O determinismo é um pilar do Calvinismo, que ensina que todas as coisas que acontecem na história são determinadas por Deus. Contudo, esse ensino levanta a questão da sinceridade divina. Se Deus é o determinador de todas as coisas, inclusive do mal, como Ele pode julgar as ações dos homens com justiça? Jacques Maritain, filósofo católico, criticou essa visão, afirmando que “um Deus que determina absolutamente todas as coisas transforma a história humana em uma peça de teatro, onde a liberdade humana não passa de uma ilusão” (God and the Permission of Evil).

4. A Graça Evanescente

O conceito da “graça evanescente”, que ensina que Deus concede uma forma temporária de graça salvadora aos réprobos (não eleitos), apenas para eventualmente deixá-los cair, levanta sérias questões éticas sobre a bondade e sinceridade de Deus.

João Calvino explica: “Ninguém pense que aqueles que se desviam eram predestinados, chamados de acordo com o propósito, e verdadeiros filhos da promessa. Pois aqueles que parecem viver piedosamente podem ser chamados filhos de Deus; mas, visto que eventualmente viverão impiedosamente e morrerão nessa impiedade, Deus não os chama de filhos em Sua presciência. Há filhos de Deus que ainda não aparecem para nós, mas o são agora para Deus; e há aqueles que, por alguma graça atribuída ou temporária, são chamados por nós, mas não o são assim para Deus”. (Concerning the Eternal Predestination of God, p. 66).

John Wesley, fundador do Metodismo, considerou essa doutrina “absolutamente repugnante”, argumentando que ela retrata Deus como alguém que deliberadamente engana os seres humanos (The Doctrine of Original Sin).

5. A Atitude Violenta de Calvino

A história pessoal de João Calvino também tem sido objeto de crítica. Embora suas contribuições teológicas sejam inegáveis, sua postura em relação aos dissidentes foi marcada pela intolerância e violência. O caso mais conhecido é a execução de Miguel Servetus, um teólogo que discordava de Calvino em questões trinitárias. Servetus, de acordo com a teologia cristã da época, era considerado um herege, mas também era um gênio multifacetado. Ele foi responsável por mapear parte da Europa, fez contribuições como filósofo, e, como médico, descobriu como funciona a circulação do sangue nos pulmões. Philip Schaff, teólogo e historiador calvinista, escreveu: “O fervor de Calvino pela ortodoxia o levou a sancionar a morte de Servetus, privando o mundo de um dos grandes gênios da época” (History of the Christian Church). Esse incidente levanta questões sobre o papel da autoridade religiosa e a coerência entre o evangelho de amor e a prática da violência.

6. A Eleição Incondicional

A eleição incondicional, que ensina que Deus escolhe quem será salvo independentemente de qualquer ação ou fé da pessoa, é uma doutrina altamente problemática. C.S. Lewis, renomado crítico do Calvinismo, escreveu: “A doutrina da eleição incondicional faz de Deus um tirano cósmico, brincando com Suas criaturas como peões em um jogo que Ele próprio orquestrou” (The Problem of Pain). O conceito de um Deus que escolhe arbitrariamente quem será salvo parece estar em desacordo com a natureza justa e amorosa de Deus, conforme revelado nas Escrituras.

7. A Expiação Limitada

A doutrina da expiação limitada, que afirma que Cristo morreu apenas pelos eleitos, tem sido amplamente contestada. J.I. Packer, apesar de ser calvinista, admite que essa é a doutrina mais difícil de ser aceita. Ele comenta: “A ideia de que Cristo não morreu por todos é um obstáculo para muitos” (Concise Theology). Versículos como 1 João 2:2, que afirma que Jesus é “a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”, parecem contradizer a visão calvinista.

8. A Graça Irresistível

Outra falha lógica apontada é a doutrina da graça irresistível, que ensina que os eleitos de Deus não podem resistir ao chamado da salvação. Roger Olson, teólogo e crítico do Calvinismo, descreve essa doutrina como “uma violação do livre-arbítrio humano” (Against Calvinism), pois ela retrata os seres humanos como incapazes de cooperar com Deus de forma voluntária e consciente. Se a graça não pode ser resistida, então o que acontece com a responsabilidade humana e o amor genuíno por Deus?

9. Deus Como Autor do Pecado e do Mal

Talvez a crítica mais devastadora ao Calvinismo seja a implicação de que Deus seria o autor do pecado e do mal, já que todas as coisas são determinadas por Ele. John Wesley criticou fortemente essa visão, afirmando que ela “faz de Deus a fonte de toda a iniquidade” (The Works of John Wesley). Para Wesley e outros críticos, atribuir a origem do mal a Deus compromete Sua santidade e justiça.

10. A Vontade Secreta e a Vontade Revelada

Por fim, o Calvinismo sustenta a existência de uma “vontade secreta” de Deus, que pode ser contrária à Sua vontade revelada nas Escrituras. Karl Barth, teólogo reformado, criticou essa divisão, afirmando que ela cria uma visão dualista de Deus: “Se Deus tem duas vontades contraditórias, como podemos confiar nEle?” (Church Dogmatics). Barth argumentou que tal doutrina cria uma distância intransponível entre Deus e Seus seguidores.

Conclusão

Embora o Calvinismo tenha moldado a teologia cristã de maneira significativa, muitas de suas doutrinas centrais apresentam falhas lógicas e teológicas que têm sido amplamente criticadas por teólogos, filósofos e historiadores. As críticas aqui apresentadas mostram que a tentativa de explicar a soberania de Deus à custa da liberdade humana e da responsabilidade moral cria um sistema que, muitas vezes, não reflete a natureza amorosa e justa de Deus, conforme revelado nas Escrituras.

Por Walson Sales

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