“É por causa dos filhos dos homens, para que Deus os prove, e eles vejam que são cm si mesmos como os animais. Porque o que sucede aos filhos dos homens, sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó, e ao pó tomarão. Quem sabe que o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige para cima, e o dos animais para baixo, para a terra” (Ec 3.18-21)
De acordo com a crença dos mortalistas, os defensores da morte da alma, o homem não possui uma entidade imaterial consciente que sobrevive à morte do corpo, ou seja, uma alma imortal, pois, segundo eles, o espírito dos animais em nada se diferencia do espírito do homem. A base desse argumento mortalista emerge da má interpretação do texto citado, que diz:
“Todos têm o mesmo fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais” (Ec 3.19).
Em que sentido Salomão está dizendo que o homem e o animal possuem o mesmo fôlego de vida? Será que ele está querendo dizer que a alma ou o espírito dos animais são iguais, ou que todos eles respiram e ao cessar a respiração de ambos, eles, do ponto de vista físico, morrem? Para entendermos essa aparente contradição, basta lermos o que ele diz no mesmo versículo e no seguinte, sem isolar o texto do contexto:
“Porque o mesmo sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; a mesma coisa lhes sucede: como morre um, assim morre o outro … Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó, e ao pó tornarão” (Ec 3.19,20).
A partir da informação obtida desse versículo, podemos perceber que Salomão está analisando essa semelhança entre os homens e os animais a partir da perspectiva da vida debaixo do sol, sobre o que acontece aqui na terra. Partindo dessa premissa, devemos concordar com ele que, do ponto de vista terreno, todos deixam de respirar, morrem e os seus corpos são consumidos pela terra e eles voltam ao pó. Nesta passagem, Salomão não pretende falar da vida após a morte, da condição dos mortos no além-túmulo, mas apenas da vida debaixo do sol. Pois, de outro modo, teremos que chegar à falsa conclusão de que os mortos não ressuscitarão, de que os ímpios não receberão a punição pelos seus pecados e de que os justos não ressuscitarão para a vida, com corpos glorificados e não irão para o céu como Cristo prometeu (Jo 14.1-3). Pois não consta na Bíblia que os animais irão ressuscitar por ocasião da volta de Jesus. Além disso, Eclesiastes 3.19 diz que: “nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade. Todos vão para o mesmo lugar”. Logo, se analisarmos essas declarações de Salomão, a partir da perspectiva do além-túmulo, de que não há nenhuma vantagem entre os homens e os animais, devemos concluir erroneamente que não haverá ressurreição dos mortos, e estamos todos enquadrados na triste situação declarada pelo apóstolo Paulo, que diz:
“Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (ICo 15.16-19).
Logo, a única conclusão possível a que podemos chegar é a de que os homens não têm o mesmo destino dos animais, e o espírito do homem é diferente do espírito dos animais, pelas seguintes razões:
1 – OS ANIMAIS NÃO RECEBERAM O SOPRO DIVINO DIRETO DO CRIADOR COMO O HOMEM RECEBEU (GN 2.7).
2 – DEUS NÃO FORMOU O ESPÍRITO DOS ANIMAIS DENTRO DELES COMO FEZ COM O HOMEM (ZC 12.1).
3 – OS ANIMAIS NÃO FORAM FEITOS À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS (GN 1.26,27).
4 – OS ANIMAIS NÂO POSSUEM UMA VIDA CONSCIENTE (Rm 12.1,2)
5 – OS ANIMAIS NÂO POSSUEM UMA ALMA IMORTAL COMO O HOMEM POSSUI (MT 10.28).
6 – JESUS, NO SERMÃO DO MONTE, DEIXOU CLARO QUE NÓS ESTAMOS EM VANTAGEM SOBRE OS ANIMAIS (MT 6.26).
7 – CRISTO NÂO MORREU PELOS ANIMAIS (Jo 3.16).
8 – NÂO HÁ PROMESSA DE RESSURREIÇÃO PARA OS ANIMAIS COMO HÁ PARA OS HOMENS (DN 12.2).
9 – NÂO HÁ PROMESSA DE GLORIFICAÇÃO DO CORPO PARA OS ANIMAIS COMO HÁ PARA OS JUSTOS (ICO 15. 50-54; 1TS 4.13-18; FP 3.20,21).
10 – NÂO HÁ PROMESSA DE SALVAÇÃO NEM DE CONDENACÂO PARA OS ANIMAIS.
11 – SOMENTE OS HOMENS RECEBERÃO A RECOMPENSA (Dn 12.2; Mt 25.46).
12 – SOMENTE OS HOMENS PASSARÃO POR JULGAMENTO, QUER NO BEMA (tribunal de Cristo Rm 14.10), QUER NO GRANDE TRONO BRANCO (juízo final, Ap 20.11-15).
Outro texto das Sagradas Escrituras que eles recorrem para fundamentar ainda mais a sua crença na morte da alma está no livro de i
Gênesis, que diz:
“E a todo animal da terra, e a toda ave dos céus, e a todo réptil da terra, em que há alma vivente…” (Gn 1.30).
Segundo essa interpretação, esse texto prova que a alma dos animais é a mesma existente nos homens, pois a palavra hebraica para “alma vivente”, nesta passagem, é a mesma que aparece para se referir ao homem como ser vivente em Gênesis 2.7, a saber, Nephesh Chayyah.
Neste caso, temos uma gritante contradição entre aquilo que eles afirmam e o que esse texto está afirmando. De acordo com a interpretação mortalista de Gênesis 2.7, o homem não tem uma alma, mas é uma alma. Não obstante, Gênesis 1.30 está afirmando que os animais têm uma nephesh, ou seja, uma alma. Logo, se homem e animal são iguais, de acordo com essa afirmação, os mortalistas estão em gritante contradição, pois, com isso, acabam confessando que o homem possui uma alma. (Ser uma alma é bem diferente de ter uma alma). Portanto, a alma dos animais não pode ser igual à alma dos homens, pelo fato de a alma dos homens ser imortal, e pelas mesmas razões que foram expostas acima.
Fonte: Livro – Perguntas Difíceis de Responder – sobre a imortalidade da alma entre a morte e a ressurreição, Elias Soares de Moraes, Editora Beit Shalom, 2016.