Carregando...
Você está em:  Home  >  Cultos Aberrantes  >  Artigo

Uma Perspectiva do Gnosticismo

Por   /  13 de dezembro de 2023  /  Sem comentários

    Imprimir       Email

Earle Cairns, em seu livro O Cristianismo Através dos Séculos, afirma que o destronamento dos deuses dos povos vencidos pelos exércitos romanos criou um vácuo espiritual que foi preenchido pela chegada da fé cristã. Com a invasão cristã no mundo, os deuses do panteão greco-romano caíram em descrédito, o que foi chamado pelos historiadores de O Crepúsculo dos Deuses (Götterdämmerung). Com o advento da igreja, os deuses das mais variadas tribos e nações do império romano tombaram e deixaram de ser adorados. O historiador Will Durant descreve que o paganismo vencido procurou sincretizar-se ao cristianismo mediante o culto dos deuses pagãos disfarçados de santos católicos e por meio do pensamento e da filosofia grega. O inimigo inseriu sorrateiramente seu fermento falsificando a mensagem do Evangelho. Nossa versão adulterada tem como carro-chefe o gnosticismo. Essa foi a pior heresia do século primeiro que atormentou a igreja apostólica.

As suas premissas principais eram o dualismo ontológico e o fatalismo. O dualismo preconizava que a criação material é não somente perversa, como é também adversária de Deus. Essa dicotomia entre sagrado e secular demonizava o mundo físico.

Disso surgiram os monastérios, os votos de pobreza, os rituais de autoflagelamento e o celibato obrigatório para sacerdotes. Essa separação em compartimentos de dois mundos criou pares infinitos de opostos: o temporal e o eterno, o físico e o espiritual, o terreno e o celestial, o aqui e o além, e assim por diante.

O gnosticismo rezava que Deus não podia se tornar carne porque a matéria é má (além de irrecuperável). Encontra-se no Novo Testamento o apóstolo João lutando contra esse tipo de ideia. Ele parece muito incomodado. No primeiro versículo da sua primeira carta ele define o tom do conflito:

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida […]. 1 João 1.1

Sua mensagem é sobre a materialidade do Verbo que foi visto, ouvido e tocado. Para ele não tem como negociar a verdade fundamental de que o Verbo se fez carne. E então declara que todo aquele que negar que Jesus veio em carne é o espírito do anticristo.

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. 1 João 4.1-4

João vai continuar combatendo a doutrina gnóstica que, pelos séculos seguintes, contendeu contra a fé cristã.

Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo. 2 João 7

A adoração bíblica na igreja dos primeiros séculos era uma expressão de alegria. O corpo, templo do Espírito Santo era considerado sagrado e deveria ser usado como demonstração de adoração a Deus…. O dualismo de dois mundos compartimentalizou a fé e criou uma esquizofrenia teológica.

Pensamentos pagãos, filosofia pagã e religião pagã se infiltraram na fé cristã.

A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Romanos 8.19-23

No gnosticismo o dualismo abraça o fatalismo e produz um mundo plástico.

Na visão cíclica dos antigos gregos a história não se move para uma meta, não há uma consumação. É a ideia fatalista de que todos nós estamos amarrados no roldão da história e não temos opção, senão aceitar o que vier.

Vemos esse viés filosófico na novela de Albert Camus, A Peste, onde a cidade de Orán foi invadida por ratos que trouxeram a peste bubônica. Os médicos batalharam até vencer a epidemia. No final do livro, o médico diz: é só uma questão de tempo e os ratos voltarão”. A lição é que não existe um sentido na história, estamos presos em um ciclo — em um lopper — na roda do destino. Você pode ver essa ideia fatalista de um mundo cíclico nos filmes onde se viaja no tempo para alterar o futuro, mas sempre acontece a mesma coisa. A ideia é de que o futuro não pode ser mudado.

No budismo, parente próximo da filosofia platônica, vemos que a primeira nobre verdade de Buda é que a vida é sofrimento. Ou seja, não se deve combater isso, estamos presos (fatalistamente) em um ciclo cósmico. A solução seria se resignar, meditar e procurar um nirvana psicológico — a felicidade interior — em um estado alterado de consciência. Isso é a mesma coisa que ir à farmácia comprar medicação para se dopar e ver a vida passar. É a metáfora da grande roda: as coisas devem retornar à forma que eram, o destino já determinou a direção da história e não há nada a ser feito. A única coisa a fazer é se desligar das coisas deste mundo e se ocupar com o mundo vindouro. Você já viu esse filme?

Diferentemente da visão grega de mundo, a fé cristã com suas raízes judaicas sempre acreditou que temos o poder de escolher nosso destino eterno:

¹⁹ Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas (Deuteronômio 30:19)

¹⁷ E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.  Apocalipse 22:17

Sim, a história tem um sentido! Você não está fatalmente destinado a algo que não possa impedir, como ensinam as religiões pagãs.

———

Extraído e adaptado do livro – METANOIA: A Chave Está Em Sua Mente, JB Carvalho, Chara Editora © 2018

 

    Imprimir       Email

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *