Para respondermos a esta importante pergunta, é necessário esclarecermos alguns conceitos importantes. A razão para isto está na confusão que se faz com a definição do que seja prosperidade. Na teologia neopentencostal, ser próspero significa ter posses, e bênção significa ter sucesso. Partindo desse princípio, algumas anomalias teológicas passam a reger a vida do cristão. Nesse contexto, a ideia que se tem de um pastor bem-sucedido, por exemplo, é de que alguém que está se “dando bem” ou que é possuidor de muitos bens.
Permita-me ilustrar isso como algo vivenciei. Certo dia, ao chegar no templo de nossa igreja, um dos nossos jovens, que sempre estava procurando fazer uma brincadeira, pediu-me que eu perguntasse a um menino o que aquela criança gostaria de ser quando crescesse. A criança não deveria ter mais do que oito anos. Fiz a pergunta e ela foi rápida na sua resposta: “Quero ser pastor”. O jovem insistiu que continuasse perguntando o porquê de ela desejar ser um pastor no futuro. Quando fiz a segunda pergunta, o menino foi taxativo e ríspido: “Porque ganha muito dinheiro”. Dei uma boa risada, mas não consegui esconder meu desconforto. Era evidente que aquela criança não possuía voz própria, apenas reproduzira o que ouvia os outros dizerem.
Fiquei perturbado porque, infelizmente, esta é a ideia que o mundo possui, não apenas dos pastores, mas de muitos crentes: alguém esperto o suficiente e que se tornou crente apenas para se dar bem na vida. E o que é pior são os evangélicos que estão imprimindo na sociedade essa mentalidade mercantilista. A teologia da cruz foi suplantada pelo desejo de consumo. Basta ver as dezenas de programas de televisão vendendo, a granel, promessas de prosperidade financeira. Dentro dessa ótica, um pastor bem sucedido é alguém que não mora de aluguel e que possui, no mínimo, um carro do ano para andar.
Mas isto está longe do que seja prosperidade bíblica. Precisamos deixar bem claro que Deus quer que seus filhos sejam prósperos, mas isso não pode ser confundido simplesmente com aquisição de posses ou bens. Nem tampouco a bênção do Senhor pode ser confundida simplesmente com sucesso. Alguém pode possuir muitos bens, ter muitas posses e ainda não ser uma pessoa próspera. Por outro lado, uma pessoa pode ser abençoada por Deus sem, contudo, ter aquele “sucesso” que o mundo tanto aplaude.
Vejamos o Salmo 73, onde essas diferenças conceituais se tornam bem claras para nós. No versículo 3, lemos: “Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios”. E no versículo 12 está escrito:” Eis que estes são os ímpios; e todavia, estão sempre em segurança, e se lhes aumenta em riquezas”. A palavra riqueza neste último texto traduz o termo hebraico shalew, derivado de shala e significa “tranquilo”, “próspero”. O contexto desse Salmo deixa claro que o autor ficou perturbado com a aparente prosperidade dos incrédulos. Como isso podia acontecer, se aqueles que temiam a Deus pareciam viver em dificuldades.
Quando ainda se propunha a entender essa aparente contradição da vida, o salmista encontra a chave que solucionará o problema. “Até que entrei no santuário de Deus; então, entendi eu o fim deles. Certamente, tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição”, vv17,18. Ele descobriu que os ímpios tem posses, mas não tem prosperidade; os ímpios desfrutam de sucessos, mas não de bênçãos divinas. Para o salmista, a prosperidade era mais questão de “ser” do que de “ter”. Ser amigo de Deus é muito mais importante do que ter aquilo que Ele pode nos dar. “Todavia, estou de contínuo contigo, tu me seguraste pela mão direita. Guiar-me-ás com o teu conselho e, depois, me receberás em glória” (Sl 73:23,24).
É esse, precisamente, o conceito de prosperidade no Novo Testamento. Ao escrever aos crentes de Corinto, Paulo diz: “ No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade (gr.Euodoo), para que não façam as coletas quando eu chegar” (1 Co 16:2). Para ele, cada cristão possuía a sua prosperidade. Com certeza, ali havia cristãos com mais bens do que outros, mas todos eram prósperos em Cristo.
Fonte: Livro – Defendendo o verdadeiro evangelho, José Gonçalves, Rio de Janeiro, 2010.