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VOCÊ QUER COMPRAR UMA ARCA DA ALIANÇA?

Por   /  27 de agosto de 2024  /  Sem comentários

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Nesta semana fui a São Paulo comprar cálices descartáveis para o uso na Ceia do Senhor. Dirigi-me a uma rua, no centro, em que há dezenas de lojas especializadas em produtos evangélicos. Toda vez que vou lá me surpreendo com alguma coisa. Nessa rua, já tentaram me vender um CD pirata que, segundo o vendedor, não era pirata, mas “genérico”. Também me chamaram pelo título de “pastor” para atrair minha atenção aos produtos em exibição – na verdade, alguns vendedores chamam todos os homens que passam de pastor – e quando perguntei como ele sabia que eu era pastor, a resposta foi: “É que a luz do Espírito brilha diferente em você”.

Desta vez, o que me surpreendeu foi notar o número e a variedade de produtos que imitam os utensílios do Templo do Senhor entre os israelitas – sem falar nas camisetas e bandeiras de Israel, de algumas vestes que lembram a indumentária dos sacerdotes levitas e de berrantes que, tendo gravada a palavra hebraica shofar – que quer dizer trombeta –, são vendidos por preços inacreditáveis. Porém, um desses produtos me chamou a atenção: era uma réplica de uns quatro ou cinco centímetros da arca da aliança. Eu perguntei para a vendedora para que servia aquela pequena peça e ela me respondeu: “Essa é a arca da aliança e ele serve para abençoar as pessoas, assim como Obede-Edom foi abençoado quando a arca ficou em sua casa” (cf. 2Sm 6.10,11). Imediatamente, surgiram algumas perguntas em minha mente – não as pude fazer na hora, pois havia movimento na loja e a vendedora logo me deixou.

A primeira pergunta que me ocorreu foi: “As pessoas pensam que os crentes são judeus da antiga aliança?”. Se pensam isso, elas se colocam diante de dificuldades intransponíveis, pois não é possível se apegar ou se adequar só a uma parte da aliança mosaica e do que significava pertencer a Israel na antiga aliança. A lei do Sinai previa bênçãos pela obediência, mas também prometia maldições pela desobediência (Lv 26; Dt 28) – algo intencionalmente omitido pela “teologia da prosperidade”. As pessoas não podem acolher uma parte e rejeitar a outra. E, se querem viver sob a lei, não podem escolher o que cumprir (Tg 2.10). O fato é que o Novo Testamento mostra que o crente não se torna israelita ao ser salvo (At 15.1-29; Gl 2.3), mas o israelita que crê passa a fazer parte da igreja (Gl 4.3-5; Ef 2.14,15 – deve-se notar que a união de judeus e gentios se dá pela abolição da lei sobre os cristãos judeus e não por meio da sua instituição sobre os cristãos gentios). Por isso, ainda que a lei mosaica tenha valor didático a respeito de Deus (Ex 20.1-21; Rm 15.4) e da nossa pecaminosidade (Rm 5.20; Gl 3.12), o Novo Testamento afirma a caducidade da antiga aliança (Hb 7.12; 8.13), proíbe a guarda da lei (Gl 4.10,11; 5.2-6; Cl 2.16,17) e liberta os crentes das superstições, incluindo as que vêm com uma aparência judaica (Gl 5.1; Cl 2.20-23).

A segunda pergunta que me ocorreu foi: “As pessoas pensam que aquelas réplicas têm as mesmas prerrogativas da arca?”. Se pensam isso, deveriam se ocupar não apenas de aguardar as bênçãos de Obede-Edom, mas de temer o fim de Uzá que, agindo na proteção da arca, caiu imediatamente morto (2Sm 6.6,7). Boa parte da idolatria encontrada ao redor mundo tem como marca a produção de miniaturas dos objetos de adoração. Um exemplo bíblico é o caso dos artesãos de Éfeso que vendiam pequenas estatuetas da deusa Diana (At 19.23-28). O fato é que, mesmo entre os israelitas que possuíam o tabernáculo que marcava a presença de Deus entre eles, em cujo centro estava a arca da aliança na posição de um tipo de trono, as imitações daquele artefato nada passam de meros simulacros que não compartilham nem da função do original, nem das suas prerrogativas. Querer ser abençoado por uma réplica de plástico da arca é como querer se casar com o retrato de uma pessoa bonita. É, também, se render ao um perfeito exemplo de superstição e de idolatria.

Depois de pagar pelos cálices que fui comprar, a vendedora me perguntou se eu não estava precisando de “óleo ungido” (sic) – sem perceber a redundância da expressão. Obviamente, respondi que não, mas uma senhora ao lado pediu um vidro para ela – o que também me surpreendeu. No final das contas, percebi que só há uma diferença entre o comércio de “réplicas da arca da aliança” e de “imagens de santos”: o público-alvo. Enquanto as estatuetas de santos são vendidas a católicos, as réplicas da arca – e todos os demais produtos que imitam os utensílios do templo – são vendidas a evangélicos. Fora isso, o paganismo é o mesmo. A rejeição da centralidade de Deus, também – sem falar na superstição, nesse tipo de busca do sobrenatural, na ignorância das Escrituras e no desejo de controlar os eventos como em simpatias e feitiços.

A igreja verdadeira de Deus precisa ficar atenta a tudo isso. O apelo de tais crendices “gospel” é forte a atinge o homem pela sua velha natureza. Não é muito difícil encontrar crentes de verdade que mantêm consigo pequenos vidros de óleo para ungir seus bens ou com adereços israelitas com a intenção de serem abençoados. Temos de tomar o máximo cuidado para não sermos seduzidos por essa pseudorreligiosidade. Em lugar disso, precisamos nos entregar ao estudo da verdade bíblica para fazermos de fato o que o Senhor nos instruiu. Que nossa “aliança” com o Senhor seja baseada na santidade e no compromisso e que sejamos notados como “arca” onde habita o Espírito Santo, fazendo brilhar em nós a luz de Cristo!

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Pr. Thomas Tronco, Igreja Batista

 

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